domingo, 27 de dezembro de 2009

Perfeição

Pudesse eu melhorar o céu
Faria sem titubiar
Tornaria as estrelas mais brilhantes
Decretando eterno o luar.

Pudera eu lapidar o mar
Um artesão que quer sempre mais
Clarear as aguas, colorir os peixes
E trazer fartura aos homens do cais.

Só a ti nem lapido nem melhoro
Pois quando te olho, mesmo distante
Tenho a mais clara impressão de estar diante
Da pura e sublime perfeição

Arthur Brok

O tempo

Nem sempre o tempo é tempo
Hora passa como quer
E não como quer o relógio

Vezes rápido, vezes lento
Relógio que não marca o tempo
Pois o tempo é quem marca.

Quanto tempo que faz tempo?
E, quanto o tempo faz?

Faz esquecer e disdoer
A dor que a um tempo atrás
Acreditei ser a maior
Porque era dor demais.

Foi-se o tempo.....
Foi-se a dor...

E a lembrança, não doída
De tempo em tempo se renova
E na cova, quando meu tempo vier
(e ai de vir)
Dessa dor já esquecida, venha eu a me lembrar. E rir.

Hoje faz sol !... Que tempo bom!

Arthur Brok

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Era uma vez em um sebo...

Meu nome é Thomas de Oliveira e tenho 27 anos. Trabalho neste sebo. Trabalhei em sebos minha vida inteira. Alguns piores que esse. Nenhum melhor. Por isso trabalho aqui há 3 anos. Não me vejo fazendo outra coisa senão trabalhar em um sebo. É como uma sina pra mim. Tenho certeza que para você, desconhecedor dos segredos dos sebos, meu trabalho deve parecer muito chato. Você está completamente certo. Até aquele dia.

Era uma segunda-feira. Ou melhor, uma terça-feira. Uma terça-feira com cara de segunda-feira. Eu limpava a parte da estante em que ficavam os livros do Mario Prata. Os livros no sebo “Sebo Novo”, que de novo nada teem, se organizam por autores. Diferente de outros sebos em que se organiza os livros pelo genero. Poesia com poesia. Policial com Policial. Auto-ajuda com Auto-ajuda. Não. Aqui cada autor, mesmo que tenha publicado um só livro, tem seu local certo e etiquetado. Facilita muito pra quem trabalha aqui. Onde está o Machado de Assis? Tá na estante em frente ao Ariano Suassuna.

Eu lia Os anjos de badaró, enquanto o seu Joel estava almoçando. Seu Joel é o dono do Sebo. Herdou o sebo do seu pai. Seu Joel Pai. Parece que por aqui nada muda. Nem o nome dos donos. Provalvelmente seu Joel Pai, tambem tinha um empregado que lia enquanto ele ia almoçar. Seu Joel é um senhor barrigudo, que só deve ter uma calça jeans. Uma calça jeans e camisas polo. E pior. Camisas polo beje e azul marinho. Todas elas sujas. As camisas do seu Joel, já saem sujas da máquina de lavar. Dai é só passar.

Enquanto me divertia com o livro de Mario Prata, uma moça entrou no sebo. Muito mais gostosa que as que frenquentam sebos. Mulher gostosa compra livro novo. Ou não compra. Ela usava um vestido de seda. Não que eu saiba diferenciar o que é, e o que não é seda. Mas parecia seda. Era seda sim. Ela passou por mim. Disse oi. Estranhei. Balancei a cabeça. Logo pensei “Mina estranha mas, ... é bem gostosa”. Ninguem comprimenta ninguem em São Paulo. Todo mundo anda com medo de ladrão, ou de gente chata. E a policia nada faz contra os bandidos. Tão pouco contra gente chata. Ela passou e foi direto pra estante em que ficavam os livros do José Saramago. Cada vez mais eu pensava como aquela moça era estranha. Seu vestido era um azul bem escuro, cheio de desenhos de rosa. Suas pernas eram lisinhas. Adoro pernas lisinhas. Um cabelo razoavelmente comprido, mas arrumado pra cima. Acho que é um coque. É assim que escreve? Sei lá.

A moça foleava sem pressa o Ensaio sobre a cegueira. Acho que eu sou burro demais para ler Saramago. Acho tambem que ela é gostosa demais para ler Saramago. Não parava de olhar para ela. Coloquei o livro de volta na estante, sem saber quem matou Ozanan. Ela lia, quando de repente começou a me olhar. Me olhava como se estivesse se divertindo com minha cara de bobo. É, eu tenho cara de bobo. Fiquei sem graça. Mas mesmo assim não tirei os olhos dela. Ela voltava a ler. Lia, lia, ou fingia que lia. Dai me olhava. Me olhava com seus olhos cor de mel. Olhos de muito mais que uma bundinha bonita. Olhos que pareciam um portal. Um portal pra um mundo novo. Um portal que me levaria a sair daquela vidinha de merda que eu vivia. Tudo parecia um jogo. Pra mim um jogo de sedução. E pra ela... eu daria tudo pra descobrir. Eu precisava falar com ela. Ela não era só mais a moça gostosa que entrou no sebo, me comprimentou e foi ler aquelas doideras. Ela era uma mulher instigante. Uma mulher sedutora, que me envolvia entre uma lidinha, e uma olhadinha. Pensei numa frase pra começar a conversa. “Oi posso ajudar?” Muito cliche. Cliche escreve assim? Precisava de algo melhor. Quem sabe...”Desce dai o seu cu de ampola”. Foi o que disse o seu Joel. Seu Joel terminou o almoço. Desci constrangido. Olhei pra estante do Saramago. Ela havia sumido.

Os sebos são locais onde tudo é meio beje. As folhas dos livros são bejes. As paredes são bejes. As camisas do dono são beje. Os dias tambem são um pouco beje. Tudo passa meio sem cor, sem vida. Os mesmos clientes vem toda semana. Toda semana tambem entra gente que só bagunça tudo e vai embora, sem comprar sequer um livro. A rotina é uma rotina nos sebos. A não ser por aquela moça bonita que entrou com seu vestido de seda, e seus olhos de portal, e que tirou meu sono desde então.

O Wanderlei vem aqui toda semana. Será que é Wanderlei ou Vanderlei? Nunca vou ter a coragem de perguntar. E que diferença faz? O Wanderlei( ou Vanderlei) gosta de vir e ler policiais. Mas ele não fala isso pra ninguem. Deve ter vergonha, Acho que ele é professor de português ou literatura, não sei. Então sempre que ele percebe a presença de alguem, pega logo um clássico qualquer e tece comentários, pra disfarçar. Comentários do tipo “ao deixar o final com uma questão em aberto, Machado..” Eu finjo que ouço com atenção. Digo “ Hum”.Só finjo. São quase todos enlatados, como de quem se formou na faculdade só lendo resumos. Mas quando ele acha que está sozinho, sem ninguem o observando, ele pega o primeiro policial que ve pela frente. Olha pros lados. Le a contra-capa. Despretensioso. Abre sua sacola e põe o livro rapidinho lá no fundo. Um dia o seu Joel me disse que quando jovens, o Vandeco, como ele o chama, queria ser detetive particular. Até que um dia ele contou seu desejo para uma namorada de colégio. Ela disse que a idéia dele era ridícula e que ela não namorava ridículos. Graças a provável tpm de uma moça qualquer, seu Waderlei( ou Vanderlei) jamais foi detetive. Ele tinha cara de detetive. Tinha até um bigode de detetive, me disse seus Joel. Hoje professor, vive com duas gatas persas, suas unicas amigas além do seu Joel. Seu Wanderlei( ou Vanderlei) é velho amigo do seu Joel. Eles até compartilham o gosto por camisas sujas. As do Wanderlei( ou Vanderlei) são brancas, mas tão sujas quanto as do seu Joel. Por isso o Wanderlei( ou Vanderlei) tem privilégios no sebo. Quando digo “por isso”, quero dizer pela amizade, não pelo gosto pelas camisas sujas. Ele vem toda quarta-feira. Escolhe os livros que quer e coloca dentro de uma sacola. Passa no caixa e deixa a sacola. Dai eu entro. Registro todos os livros que ele comprou com a pistola de códigos de barra, enquanto ele toma um café com o seu Joel na padaria ao lado. Ele volta, pega a sacola, e vai embora. Leva sempre de 5 a 8 livros por semana. No final do mês passa e acerta tudo. O mais curioso é que ele paga tudo, sempre em moedas. Da onde ele tira tanta moeda? Ele é profesor ou é uma máquina de caça-niquel? Mais um mistério desse estabelecimento cor beje.

A parte do meu trabalho que eu mais gosto não é vender livros, e sim compra-los. Nossos maiores fornecedores são homens. Homens bebados. Bebados que tem muitos livros. Começei a pensar que ler muito deve levar ao alcoolismo. Eles vem desesperados por dinheiro. Muitos vendem caixas inteiras de livros por um preço único. E um preço único muito baixo. Só depois de entender como os sebos pagam tão barato nos livros, que entendi como eles conseguem sobreviver. Eu só posso comprar livros com a autorização do seu Joel. Seu Joel, apesar de dono do sebo, nunca gostou de livros. Ele está preso a este lugar assim como eu. A coisa do seu Joel é cinema. Cinema e putas. Seu Joel já comeu todas as putas baratas da cidade de São Paulo. A palavra putanheiro devia ser acompanhada da foto dele no dicionário. Acho que a palavra putanheiro não está no dicionário, mas se estivesse já esta dada a dica. A avenida preferida do seu Joel é a Av. Ipiranga. Lá ele encontra suas duas paixões: putas e cinema. Desde que a mulher do Seu Joel morreu, há 9 anos, ele vai toda quinta-feira ao cinema. Leva em sua mão um lenço verde, que pertencia a sua mulher. A falecida mulher do seu Joel tambem foi puta. Mas depois se casou com ele, largou a profissão. Era uma ex-puta. Ela foi a única que conseguiu fazer ele sossegar o facho por um tempo. O seu Tonico, que era lanterninha do cinema mais frenquentado pelo seu Joel, e que por acaso, hoje já velho e sem lanterna, mora em cima do sebo, diz que sempre que eles iam ao cinema, ela levava esse lenço verde. Quando começava a sessão, deixava o lenço cair entre os pés do seu Joel. Sem Pressa recuperava o lenço e subia. Subia devagar. Ela satisfazia as fantasias do seu Joel durante toda a sessão. Durante a sessão inteira. Enquanto isso ele comia pipoca. Seu tonico diz que ela era uma profissioal. Nunca foi encontrado uma gota sequer de semem. Bons tempos para o seu Joel. Seu joel teve um casamento feliz. Um bom filme na tela, e sua puta a chupa colo, literalmente.

Ao abrir as caixas cheias de livro, encontramos obras raras. Claro que tem muita besteira, coisas que agente nem consegue vender. Mas muitas vezes os bebados, talvez por estarem bebados, talvez pelo desespero em conseguir dinheiro, talvez por sorte nossa, nos presenteiam com raridades que valem muito dinheiro. Estes livros não ficam nas estantes comuns. Eles são separados e oferecidos aos clientes certos. A uma lista de clientes que buscam livros raros. Cada um deles nos envia uma lista de livros que estão a procura. Quando calha de um dos livros que eles procuram, chegar em nossas mãos, começa a negociação. Normalmente eles pagam o que for por esses livros. Analisamos e escolhemos o preço. Esse trabalho é meu. Se fossem putas seria do seu Joel. Como são livros, eu é quem faço. Antes de oferecer eles aos compradores sempre os leio. Ajuda na hora de valorar. Sempre que vendemos livros excepiconais, eu ganho uma comissão de 30% sobre o lucro da venda. Parece pouco. E é. Mas é com essa grana extra que consigo pagar minhas contas. Por isso gosto de comprar os livros. Porque assim consigo achar livros raros. Consigo escolher o preço. Consigo vende-los. E colocar meus 30% no bolso. Quanto mais história tiver o livro mais caro ele é. Quem gosta de livros usados, como eu, gosta deles pela carga que ele carrega. Pelas indagações que ele nos gera. “De quem será que foi esse livro?” “Será que ele comprou?” “Será que ganhou?’ Tudo isso torna um livro usado mais atraente.

... CONTINUA

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Aos mestres

Surge letra e vocabulo.
Nem tudo posso entender.
Advérbios, verbos, nomes
Minha alma assim eu lavo

De uma angustia, angustiante
Pleonasmo noto, e sinto
Por não ser tão mais brilhante
Que Fernando e Olavo.

Mais sei que não é vergonha
Pois, se explique e se exponha
É hitech a ultima flor
E pra’quela dor fingida
Já existe anador

Arhur Brok

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Desvio

Pendurei ao lado da cama
Um terço, e acendi uma vela
Quem me dera fosse de preçe
Que se desse o meu viver

Por dizer nem sempre aquilo
Que esperavam que dissesse
Minha preçe, minha vela
Se perderam sem poder

Sem poder mudar o mundo
Que me cerca e me assusta
Foi na busca de respostas
Que fiquei sem entender

Como pode Deus me ouvir
E fazer tudo ao contrário?
Um falsário de milagres
Blasfemei sem mais temer

A fé havia ido embora
Como quem vai pra não mais voltar
E na hora, justo na hora, que iria me matar
A simples mudança de rima me fez voltar a sorrir

Arhur Brok